Foi com muita alegria que recebi esta mensagem.
Não estou publicando para me autopromover, mas pela importância do trabalho do Professor de Literatura e Doutor em Letras/ UFRGS, Vinicius Rodrigues.
Muito obrigada, Vinicius, em meu nome e em nome da família Sampaio.
Maria Lucia
“Meu nome é Vinicius. Sou professor de Literatura e pesquisador de quadrinhos.
Estou mandando este e-mail por duas razões.
Vamos a elas.
Primeiramente, queria te agradecer, pois, indiretamente, tens uma parcela de responsabilidade sobre a produção da minha tese de doutorado...
...a questão é que ter acesso ao acervo do SamPaulo, disponível no Delfos, da PUC/RS, foi de extrema importância para mergulhar um pouco mais na obra desse artista que respeito tanto; é nesse sentido que quero agradecer, pois esse acesso possibilitou conhecer muitas facetas do trabalho dele - da mesma forma que o blog produzido por ti, que já vinha me ajudando bastante antes disso.
O SamPaulo não foi o único objeto da minha tese, mas era um dos vértices da proposta central do trabalho.
Finalizada a tese, quero poder continuar e ajudar com a divulgação e com a manutenção da memória do trabalho do SamPaulo. Tenho alguns planos para isso; por ora, eles se restringem, principalmente, às abordagens acadêmicas e possíveis contribuições na imprensa... "
Santiago:
"a charge usa como base a Pietá, de Michelangelo, é “profanada” pelo autor, que retira seu principal mote, o corpo desfalecido de Jesus Cristo nos braços da Virgem Maria, para simbolizar as figuras de tantos mortos e desaparecidos durante a Ditadura Argentina, que vigorou entre de 1976 a 1983; Santiago mira não apenas na simbologia cristã ligada ao sacrifício, mas, principalmente, na imagem materna, relacionando sua representação às chamadas Mães da Praça de Maio, a famosa associação de mulheres que passaram a reivindicar respostas do Governo, ainda durante o Regime e também depois, sobre o paradeiro de seus filhos."
Reproduzo aqui pequenos trechos da tese, que pode ser lida na íntegra no link abaixo:
"Sampaulo foi, talvez, a principal “ponte” entre a sua própria geração e a que a sucedeu, nos anos 1970, mantendo a relevância de sua produção até o final dos anos 1990, quando faleceu.
Desenho? Ilustração? Texto?
O que se percebe a partir da menção ao fato de que SamPaulo não publicou apenas cartuns e charges ao longo da vida é que seu trabalho tinha uma considerável marca de versatilidade, manipulando muitos dos gêneros disponíveis no jornal.
SamPaulo também foi um artista multimídia: nos anos 1960, tinha um quadro na televisão chamado 'SamPaulo e seus bichões', onde desenhava ao vivo."
Algumas charges publicadas e comentadas:
"Relacionando a figura do então Chefe da Casa Militar, Ernesto Geisel, ao início da perseguição aos inimigos políticos do Regime recém instaurado, o trabalho acaba necessitando muito do vínculo entre texto verbal e texto não verbal – algo típico da charge – e usa elementos simbólicos de identificação que extrapolam a caricatura pessoal – como a farda militar; há uma representação do medo evidente: pessoas se escondem, alguns até mesmo do próprio leitor (atente-se para os “olhos” que espiam clandestinamente no canto superior esquerdo); a cidade está deserta e mesmo os ratos fogem; há uma atmosfera instaurada e ela, talvez, não seja estranha ao leitor."
“O pioneirismo de SamPaulo também se revela num formato de tira que, até os anos 1960, não era tão comum na imprensa gaúcha: a tira cômica (eventualmente seriada) baseada na recorrência de um mesmo personagem.
A figura com a qual SamPaulo consolida essa proposta é Sofrenildo, criação que se tornou o carro-chefe do trabalho do autor a partir de sua transição do Diário de Notícias para a Caldas Júnior. Tal mudança acabou, inclusive, sendo documentada pelo autor." Publicado em 14 de dezembro de 1966, no Correio do Povo (Porto Alegre)
"Fora das tiras de Sofrenildo, porém, o trabalho de SamPaulo, especialmente dentro do âmbito específico da charge, também deu sinais relacionados à crítica social, especialmente em relação ao cotidiano e ao cenário político brasileiro de diversos tempos – inclusive, durante o período da Ditadura Civil-Militar. É recorrente em seu trabalho, por exemplo (desde os anos 1950), a discussão sobre a pobreza e a condição dos desvalidos, que transitam entre a resignação (uma inversão de expectativa que leva ao humor) e a revolta."
Minha homenagem aos outros dois cartunistas, amigos de SamPaulo, que "dividiram" a tese com ele.
Minha homenagem aos outros dois cartunistas, amigos de SamPaulo, que "dividiram" a tese com ele.
Santiago:
"a charge usa como base a Pietá, de Michelangelo, é “profanada” pelo autor, que retira seu principal mote, o corpo desfalecido de Jesus Cristo nos braços da Virgem Maria, para simbolizar as figuras de tantos mortos e desaparecidos durante a Ditadura Argentina, que vigorou entre de 1976 a 1983; Santiago mira não apenas na simbologia cristã ligada ao sacrifício, mas, principalmente, na imagem materna, relacionando sua representação às chamadas Mães da Praça de Maio, a famosa associação de mulheres que passaram a reivindicar respostas do Governo, ainda durante o Regime e também depois, sobre o paradeiro de seus filhos."
Edgar Vasques:..."uma cartografia antiquada, anacrônica em relação ao personagem que carrega uma bandeira nacional com a abreviação de 'século XXI'; o 'Brasil do século XXI', no caso, olha para 'si mesmo' e parece encontrar algo muito semelhante ao período colonial: um mapa das capitanias hereditárias não com os nomes antigos das províncias ou de seus mandatários, mas sim de suas 'versões' contemporâneas, as grandes famílias que controlam a mídia no país. A surpresa do personagem – cujos movimentos característicos nos revelam um estado de estupefação – também pode ser a nossa, na medida em que a charge busca mostrar aquilo que muitos têm medo de dizer; a relação entre mensagem e imagem pode ser eventualmente exagerada, mas isso é exatamente o que cabe a qualquer charge: revelar não pelo didatismo puro, mas sim por um certo estranhamento que nos convida a pensar. "
Como primeiro desdobramento de sua tese, Vinícius Rodrigues publicou uma coluna sobre o trabalho de SamPaulo na revista digital "Parêntese". ( http://www.parentese.com.br )
Mais uma vez, obrigada, Professor!
Muito interessante! Que belo trabalho, e que bom poder ler aqui. Três dos meus ídolos juntos numa tese! 👏👏👏👏👏👏
ResponderExcluirfiquei bem exibidinha, rsrsr
ExcluirBeijo