terça-feira, 7 de julho de 2020

SamPaulo em tese de douturado da UFRGS!

Foi com muita alegria que recebi esta mensagem.
Não estou publicando para me autopromover, mas pela importância do trabalho do Professor de Literatura e Doutor em Letras/ UFRGS, Vinicius Rodrigues.
Muito obrigada, Vinicius, em meu nome e em nome da família Sampaio.
Maria Lucia

“Meu nome é Vinicius. Sou professor de Literatura e pesquisador de quadrinhos.
Estou mandando este e-mail por duas razões.
Vamos a elas.
Primeiramente, queria te agradecer, pois, indiretamente, tens uma parcela de responsabilidade sobre a produção da minha tese de doutorado...
...a questão é que ter acesso ao acervo do SamPaulo, disponível no Delfos, da PUC/RS, foi de extrema importância para mergulhar um pouco mais na obra desse artista que respeito tanto; é nesse sentido que quero agradecer, pois esse acesso possibilitou conhecer muitas facetas do trabalho dele - da mesma forma que o blog produzido por ti, que já vinha me ajudando bastante antes disso.
O SamPaulo não foi o único objeto da minha tese, mas era um dos vértices da proposta central do trabalho.
Finalizada a tese, quero poder continuar e ajudar com a divulgação e com a manutenção da memória do trabalho do SamPaulo. Tenho alguns planos para isso; por ora, eles se restringem, principalmente, às abordagens acadêmicas e possíveis contribuições na imprensa... "


Reproduzo aqui pequenos trechos da tese, que pode ser lida na íntegra no link abaixo:

"Sampaulo foi, talvez, a principal “ponte” entre a sua própria geração e a que a sucedeu, nos anos 1970, mantendo a relevância de sua produção até o final dos anos 1990, quando faleceu.
Desenho? Ilustração? Texto?
O que se percebe a partir da menção ao fato de que SamPaulo não publicou apenas cartuns e charges ao longo da vida é que seu trabalho tinha uma considerável marca de versatilidade, manipulando muitos dos gêneros disponíveis no jornal.
SamPaulo também foi um artista multimídia: nos anos 1960, tinha um quadro na televisão chamado 'SamPaulo e seus bichões', onde desenhava ao vivo."
Algumas charges publicadas e comentadas:

"Relacionando a figura do então Chefe da Casa Militar, Ernesto Geisel, ao início da perseguição aos inimigos políticos do Regime recém instaurado, o trabalho acaba necessitando muito do vínculo entre texto verbal e texto não verbal – algo típico da charge – e usa elementos simbólicos de identificação que extrapolam a caricatura pessoal – como a farda militar; há uma representação do medo evidente: pessoas se escondem, alguns até mesmo do próprio leitor (atente-se para os “olhos” que espiam clandestinamente no canto superior esquerdo); a cidade está deserta e mesmo os ratos fogem; há uma atmosfera instaurada e ela, talvez, não seja estranha ao leitor."


















“O pioneirismo de SamPaulo também se revela num formato de tira que, até os anos 1960, não era tão comum na imprensa gaúcha: a tira cômica (eventualmente seriada) baseada na recorrência de um mesmo personagem.

A figura com a qual SamPaulo consolida essa proposta é Sofrenildo, criação que se tornou o carro-chefe do trabalho do autor a partir de sua transição do Diário de Notícias para a Caldas Júnior. Tal mudança acabou, inclusive, sendo documentada pelo autor." Publicado em 14 de dezembro de 1966, no Correio do Povo (Porto Alegre)




"Fora das tiras de Sofrenildo, porém, o trabalho de SamPaulo, especialmente dentro do âmbito específico da charge, também deu sinais relacionados à crítica social, especialmente em relação ao cotidiano e ao cenário político brasileiro de diversos tempos – inclusive, durante o período da Ditadura Civil-Militar. É recorrente em seu trabalho, por exemplo (desde os anos 1950), a discussão sobre a pobreza e a condição dos desvalidos, que transitam entre a resignação (uma inversão de expectativa que leva ao humor) e a revolta."



Minha homenagem aos outros dois cartunistas, amigos de SamPaulo, que "dividiram" a tese com ele.

Santiago:
"a charge usa como base a Pietá, de Michelangelo, é “profanada” pelo autor, que retira seu principal mote, o corpo desfalecido de Jesus Cristo nos braços da Virgem Maria, para simbolizar as figuras de tantos mortos e desaparecidos durante a Ditadura Argentina, que vigorou entre de 1976 a 1983; Santiago mira não apenas na simbologia cristã ligada ao sacrifício, mas, principalmente, na imagem materna, relacionando sua representação às chamadas Mães da Praça de Maio, a famosa associação de mulheres que passaram a reivindicar respostas do Governo, ainda durante o Regime e também depois, sobre o paradeiro de seus filhos."
Edgar Vasques:..."uma cartografia antiquada, anacrônica em relação ao personagem que carrega uma bandeira nacional com a abreviação de 'século XXI'; o 'Brasil do século XXI', no caso, olha para 'si mesmo' e parece encontrar algo muito semelhante ao período colonial: um mapa das capitanias hereditárias não com os nomes antigos das províncias ou de seus mandatários, mas sim de suas 'versões' contemporâneas, as grandes famílias que controlam a mídia no país. A surpresa do personagem – cujos movimentos característicos nos revelam um estado de estupefação – também pode ser a nossa, na medida em que a charge busca mostrar aquilo que muitos têm medo de dizer; a relação entre mensagem e imagem pode ser eventualmente exagerada, mas isso é exatamente o que cabe a qualquer charge: revelar não pelo didatismo puro, mas sim por um certo estranhamento que nos convida a pensar. "

Como primeiro desdobramento de sua tese, Vinícius Rodrigues publicou uma coluna sobre o trabalho de SamPaulo na revista digital "Parêntese". ( http://www.parentese.com.br )
Mais uma vez, obrigada, Professor!





2 comentários:

  1. Muito interessante! Que belo trabalho, e que bom poder ler aqui. Três dos meus ídolos juntos numa tese! 👏👏👏👏👏👏

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