domingo, 26 de abril de 2020

A greve da Caldas Junior e as demissões na RBS

Na última sexta-feira, dia 24 de abril, o grupo gaúcho RBS, do qual faz parte o jornal Zero Hora, demitiu 31 profissionais, alguns deles com muitos anos da casa, tendo como desculpa a pandemia, .
Um dos comentários que li no FB sobre isto fazia menção à greve da Caldas Junior que aconteceu no início da década de 1980, em Porto Alegre.
A Companhia Jornalística Caldas Junior, naquela época era proprietária de três jornais, Correio do Povo, Folha da Tarde e Folha da Manhã e da Rádio Guaíba, todos com grande credibilidade.  
No Rio Grande do Sul se dizia: "se o Correio do Povo deu, então é verdade" e parece que era mesmo.
No final dos anos 1970, a empresa começa a ter graves problemas financeiros
Como diz o Professor Luiz Artur Ferraretto: "Quem, por volta de 1970, visse a pujança da Companhia Jornalística Caldas Júnior, publicando três jornais – Correio do Povo, Folha da Manhã e Folha da Tarde –, e a tranquila situação da Rádio Guaíba jamais imaginaria a crise do início da década seguinte."*¹
Entre o final de 1983 e o início de 1984, com dois meses de salários atrasados e os pagamento do FGTS e do INSS também em atraso, parte dos funcionários entra em greve.
E é aí que consiste a diferença comentada no FB entre os donos da RBS e Breno Caldas, proprietário e diretor da empresa: "Em vez de deixar a pessoa jurídica, isto é, o jornal, afundar, salvando sua fortuna pessoal, resistiu em desespero e consumiu 90% do seu imenso patrimônio particular tentando salvar o Correio do Povo. Por certo que não agiu com a prudência que se quer de um empresário, mas foi um jornalista exemplar: num dos lances finais da agonia do jornal, quando não tinha mais crédito para obter papel, trocou a metade dos 800 hectares que possuía na espetacular Fazenda do Arado, no sul de Porto Alegre, pelas bobinas ne­cessárias para imprimir o Correio mais algumas semanas."*²
Apesar desta atitude correta, durante a greve foi bastante duro com os funcionários, acionando a Brigada Militar:


Mas, a greve, que durou 56 dias, foi considerada ilegal pela Justiça do Trabalho.
O ano era 1984 época do regime militar.

SamPaulo trabalhou por 14 anos na Folha da Tarde, no Correio do Povo (onde nasceu o seu personagem Sofrenildo) e na Folha da Manhã.
Por 15 anos, até o seu falecimento, fez  charges diárias para a Zero Hora, onde foi substituído pelo cartunista Iotti *³, despedido na sexta feira.
A edição especial de dezembro de 1983 do jornal "Denúncia", pequeno e combativo, dirigido pelo jornalista  Carlos Alberto Kolecza, cujas imagens publico abaixo, foi dedicada à cobertura da greve.
Para melhor visualização é só clicar na imagem.

 
Página 2
*muito provavelmente, esta edição foi impressa antes da venda por Breno Caldas, de parte de seus bens, como consta nas fontes consultadas.
 
Página 3


Páginas centrais (4 e 5)

Página 4

Página 5

Página 6
 


Página 7



Contracapa

 
 
Uma greve que teve até hino:
 


*1. http://www.radionors.jor.br/2014/08/a-radio-guaiba-e-crise-na-caldas-junior.html

*2. https://www.lpm-blog.com.br/?p=26675

*3. ultima charge de Iotti, publicada no dia 24 de abril:


Mais sobre a greve nesta tese de mestrado, na UFRGS:
A greve da oficina de chumbo : o movimento de resistência dos trabalhadores da Empresa Jornalística Caldas Júnior (Porto Alegre, 1983-1984)

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