Escrito por Luiz Fernando Veríssimo, em novembro de 1998
Tem gente que a gente bota num pedestal e, mesmo sem
querer, trata como um monumento. Não sei se o SamPaulo notou que, na primeira
vez em que falei com ele, eu estava falando com uma estátua. Eu era seu
admirador – eu e toda a torcida do Grêmio e do Internacional juntas – mas não
me lembro se disse isto ou se não disse nada, e só fiquei ali curtindo aquele
fato, o SamPaulo, o SamPaulo da “Folha”, na minha frente, em carne e osso. Ou
em bronze.
Mas o que eu queria dizer é
que o próprio SamPaulo nunca se pôs num pedestal, embora tivesse todo o direito
de andar com um embaixo do braço. Ele era uma das personalidades da cidade, um
dos grandes jornalistas de uma época de jornalistas inesquecíveis. E, no
entanto, lembro dele lá em casa cercado de guris cartunistas, numa das tantas
vezes em que nos reunimos para bolar coisas que nunca aconteceram (ou
aconteceram pouco) e nenhum dos guris estava sentado aos seus pés, nem
metaforicamente. O SamPaulo participava das reuniões como se fosse um
iniciante. Ali, no chão, com a gente. E o monumento tomava cerveja!
Não sei se ele vai gostar destas reverencias.
Afinal, o negócio dele sempre foi a irreverência, o ofício de botar o dedo em
feridas e derrubar posudos dos seus pedestais. Mas quando fizerem a estátua
mesmo, eu quero colaborar.
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